Disciplina - Matemática

Matemática

19/02/2014

A beleza que se vê , a beleza que se é

Por Jorge Boucinhas

Ah, como é complexo definir o que é belo. Já se vai ao terceiro Artigo sobre o tema. Após as revisões do que os mais afamados filósofos disseram sobre o que seria sua essência (ou, pelo menos, o que dela achavam eles), foi visto que a Matemática e a Biologia modernas também se esforçaram em dar sua contribuição. A primeira tentou enquadrá-la em fórmulas (por exemplo, quanto ao rosto humano uma das mais famosas é a que “determina” (?) que o lábio superior deveria constituir 2/5 e o superior 3/5 da espessura total do conjunto. Sorte tem Angelina Jolie, que alcançou tal proporção!).

Mas a Biologia teve mais fôlego. Tudo começou com o famoso Charles Darwin, pai da Teoria da Evolução, que no século XIX percebeu que os animais selecionavam parceiros sexuais pela aparência. Entre os alces, por exemplo, os machos com chifres fortes e simétricos são preferidos. A aparência estaria aí relacionada à capacidade de defesa e poderem ser gerados filhotes com maiores chances de sucesso na luta pela sobrevivência. Também entre os humanos a beleza seria interpretável como sinal de bons genes transmissíveis na reprodução. Por exemplo, mulheres com cintura fina foram tidas por belas tanto entre os incas pré-colombianos quanto entre os franceses modernos. O psicólogo Aílton Amélio, da USP, escreveu que a relação ideal entre cintura e quadril seria de 0,67 a 0,80, o que teria por trás uma explicação biológica: cinturas mais grossas geralmente indicam disfunções hormonais e menos chances de gerar filhos. As banhistas de Renoir, consideradas modelo de beleza ao tempo em que foram pintadas, obedeciam tal padrão. Como outra evidência dessa possibilidade de universalização, quando mulheres ocidentais são mostradas a polinésios, eles consideram os corpos delas esquisitos, mas as mais aprazíveis são justamente as de cintura fina. No caso dos indivíduos de sexo masculino, são universalmente valorizados ombros largos e mandíbula forte. Outrossim, há estudos mostrando que rostos comumente considerados bonitos chamam mais a atenção de bebês, algo significativo já que estes ainda não experimentaram as influências da cultura. Sinais que indicam juventude e fertilidade são os mais admirados.

Vive-se a era pós-industrial e não mais é a produção de bens o fulcro da economia. Avança o setor de serviços e, nele, a aparência conta muito. O salto tecnológico nas comunicações criou um ambiente de valorização da imagem. As pessoas começaram a viver mais distanciadas e cem menos trocas diretas. Têm-se amigos (pseudo-) dos quais nem os nomes completos se sabe. Resulta que os padrões dominantes, inventados por meia dúzia e divulgados urbi et orbi, contaminam todos ambientes. Liga-se a televisão ou acessa-se a NET e sofre-se bombardeio de publicidade que associa beleza a felicidade, saldo bancário e amor.

De fato, pesquisa publicada há 2 décadas pela revista americana American Economic Review mostrou que pessoas consideradas bonitas ganham salários em média 10% mais altos do que as feias. Em outro estudo, este bem grande, economistas da Texas University/Austin, analisaram dados de cinco grandes levantamentos realizados entre 1971 e 2009 em EUA, Canadá, Alemanha e Grã-Bretanha, tendo identificado que as pessoas consideradas bonitas são geralmente economicamente mais bem-sucedidas e são socialmente mais ajustadas e tidas por seus pares como felizes. Um comentário especial merece mais outro: o teste da moeda, feito por psicólogos norte-americanos. Ao encontrarem 10 centavos intencionalmente deixados numa cabine telefônica, 87% dos ocupantes devolveram a moeda quando apareceu uma mulher bonita perguntando por ela. Só 60% fizeram o mesmo quando se tratava de uma mulher feia.

Esses e outros trabalhos pesaram e eis que muitos pensadores passaram a considerar a beleza um valor, como na nova teoria do filósofo analítico americano Guy Sircello. Será que tem-se que voltar às palavras de Vinicius e aceitar que não há salvação senão na tão badalada formosura? Calma! A sorte dos não aquinhoados não está selada. Einstein pôs o homem a viver a época da Relatividade, assim, entre as qualidades lembradas pelos psicólogos como fatores de atração interpessoal, a auto-estima e a autoconfiança são ditas as armas mais poderosas. Ambas têm impacto na maneira de encarar o mundo e na forma como as pessoas vêem-se umas às outras outros. Gostar de si mesmo tem efeitos mágicos na receita para parecer/ser bonito. Se alguém se sente bonito, sente-se bem e transmite isso aos demais, esteja como estiver, obedeça ou não a padrões de lavra alheia. Ora, se nem a Filosofia nem as ciências exatas podem assegurar o que é, de fato, belo, o querido poetinha perdoe mas o que importa é não engolir estereótipos e amar-se como se é!

Esta notícia foi publicada em 16/02/2014 no site http://tribunadonorte.com.br. Todas as informações contidas são responsabilidade do autor.
Recomendar esta notícia via e-mail:

Campos com (*) são obrigatórios.